sexta-feira, 23 de abril de 2010

Proposta de Trabalho 2




ALBERTO CAEIRO

Memória Descritiva
“Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos.”
Fernando Pessoa in Carta a Adolfo Casais Monteiro
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza. Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, e escreve em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo.
Para Alberto Caeiro, pensar é inutil e só através das sensações poderemos perceber o mundo. É um poeta de completa simplicidade, e considera que a sensação é a única realidade. Caeiro aceita a realidade tal como é, de forma tranquila e vê o mundo sem necessidade de explicações. Para ele, contemplar a natureza é suficiente, não precisa de a entender. Caeiro desvaloriza a existência de temporalidade, ou seja, não há passado, presente ou futuro, todos os instantes são uma unidade de tempo.

A Composição Visual
Para a nossa composição visual, decidimos basear-nos naquilo que é mais importante para Caeiro – A natureza. Assim, resolvemos de uma forma muito simples e através da tipografia compor a forma de uma árvore em fundo preto mais uma vez para destacar a natureza e a simplicidade. Ao fundo, a complementar a composição, destacamos o conhecido verso „Pensar é estar doente dos olhos.‟
Para Caeiro, pensar é não usufruir da realidade, é recionalizar aquilo que jamais pode ser racionalizado. Segundo a sua doutrina, a visão é aquilo que de melhor temos e é através dela que devemos percepcionar a realidade.


RICARDO REIS

Memória Descritiva
Ricardo Reis não deixa de ser Fernando Pessoa. O mais complexo heterónimo do poeta que “faz versos” orienta toda a sua acção segundo duas filosofias complementares: o estoicismo e o epicurismo. Estas são, assim, doutrinas filosóficas que permitem reivindicar uma forma de estar no mundo que se aproxima da visão pagã.
É que o Dr. Ricardo Reis, com o seu neoclassicismo, a sua crença verdadeira e real na existência de divindades pagãs, é um sensacionalista puro, embora de género diferente. A sua postura para com a natureza é tão agressiva para com o pensamento como a de Caeiro; não imagina quaisquer significados nas coisas, escreve Fernando Pessoa acerca de Reis.
Aproximando-se do mestre Alberto Caeiro, Ricardo Reis situa o ser humano na mesma escala existencial dos seres que integram o universo. O Homem é regido pelas regras cosmogónicas universais e o apelo deste heterónimo pessoano surge no sentido de promover a consciência deste facto, o que implica uma desvalorização da individualidade e da ideia de que o Homem pode controlar a sua existência. É a constatação desta verdade que leva Ricardo Reis a defender a ataraxia, a inércia como única possibilidade perante o reconhecimento da inevitabilidade do destino e da morte.
Existir é nada ter, é nada poder. Este poeta não acredita na obtenção de verdades e a sua única certeza é que não fugiremos ao nosso fado, ao nosso destino, que culminará, inevitavelmente, na morte. Propõe, como tal, a anulação da vontade, a aceitação passiva de todas as coisas, a recusa da emoção e do prazer exagerado. Para Ricardo Reis, o homem é um ser que está preso na sua própria condição. A renúncia é a única coisa que nos resta perante uma vontade divina que nos transcende. Reis propõe o gozo do momento, o carpe diem, pois o futuro é incógnito e a vida é efémera.
Ele reconhece uma inutilidade nas acções e considera que o ser humano nunca poderá ser feliz; deve, por isso, evitar os prazeres fortes e aceitar a dor como algo que, inevitavelmente, teremos de sentir. A tranquilidade é o nosso único quinhão de felicidade e de liberdade.
Foi precisamente a partir dos pilares que orientam a poesia de Reis que se construiu a composição visual final.

A Composição Visual
Reis é, como referido, um poeta sustentado pelo epicurismo, estoicismo, apatia e ataraxia que nos remetem, de imediato, para a filosofia do carpe diem.
Como tal, a composição procurou precisamente abordar diversos pontos desta figura pessoana. Assim, de imediato visualizamos dois „R‟ que significam, primeiramente „Ricardo Reis‟. Contudo, o significado implícito é pois, o pretendido; trata-se de um modo de reforçar a ideia da apatia e da desvalorização das acções. Reis defende que o Homem está completamente condenado ao fado, pelo que os seus comportamentos em nada o mudarão. A ideia de reflexo/espelho transmite, então, o conceito de inactividade, de tranquilidade. A complementar está, claro, o carpe diem, escrito em cima dos “R”, também para transparecer que esta é a filosofia de vida que orienta todas as (poucas) acções que este procura tomar. A fonte escolhida para escrever esta última expressão transmite calma, simplicidade.

ÁLVARO DE CAMPOS

Memória Descritiva
Álvaro de Campos é o único heterónimo que apresenta três fases distintas na sua obra. Começa a sua obra na fase decadentista onde o autor expressa a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia e de novas sensações. Uma das obras mais conhecidas desta fase foi „Opiário‟.
Adere pouco depois ao futurismo que é quando começa a fase sensacionista, na qual Campos exalta o progresso científico. Uma das suas mais importantes obras – Ode Triunfal – insere-se na fase sensacionista onde o autor expressa a sua vontade de „sentir tudo de todas as maneiras‟ e onde procura fundir-se com a máquina. Além de exprimir o sensacionalismo nesta fase, é notável também o masoquismo uma vez que este diz que quer sentir o atropelo das máquinas „Ragar-me todo, abrir-me completamente‟.
Após uma desilusão com a sua existência inicia a fase intimista na qual se depara com a incapacidade de realização e por isso volta ao abatimento. Nesta fase é notável o „íssimo, íssimo, íssimo, cansaço..‟ e a descrença em relação a tudo.
“Campos, [surge] quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê.”
Fernando Pessoa in Carta a Adolfo Casais Monteiro

A Composição Visual
Para esta composição decidimos focarmo-nos apenas na fase sensacionista na qual os poemas de Álvaro de Campos exprimem a alegria pelo movimento, pelas novas tecnologias, pelo barulho, cor, etc.
Campos está quase como a declarar o seu amor pela sociedade contemporânea e por tudo o que ela envolve. São frequentes as enumerações e onomatopeias que explicam de uma forma alucinante tudo aquilo que se vivia.
Decidimos utilizar versos da Ode Triunfal para esta composição e fazer como que um aglomerado de palavras sem sentido. Fazer com que no meio da página estivesse „um monte‟ de palavras misturadas, para dar a ideia da loucura, de movimento e da sobreposição de ideias e sensações.
Nesta composição destacamos o verso „Tenho febre e escrevo‟ porque consideramos que era um dos que melhor expressava essa tal ideia de uma valorização da máquina quase febril. Como se a necessidade de escrever sobre as máquinas, sobre os avaços tecnológicos fosse inabalável.

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